Tradicionais portas de entrada para as drogas no Brasil, as fronteiras de Mato Grosso do Sul, mais recentemente, também se tornaram a morada de muitos alunos de Medicina que estudam nos países vizinhos, onde os valores para essa formação são menores do que os oferecidos no Brasil.
Essa realidade fez com que quadrilhas cooptassem alguns estudantes para ajudarem na entrada de entorpecentes no País e no envio deles para outras nações.
Operação deflagrada ontem pela Polícia Federal (PF) de Goiás, mas que cumpriu mandados em Campo Grande e Corumbá, buscou desmantelar uma organização criminosa que usava alunos de Medicina para a entrada de cocaína pela fronteira de Mato Grosso do Sul.
De acordo com a PF, a investigação descobriu que essa organização criminosa entra com a droga pela fronteira de MS de forma camuflada e depois a transporta para Goiás, de onde seria enviada para países da Europa.
“O grupo investigado utilizava de osciloscópios – instrumentos normalmente usados em laboratórios de engenharia e eletrônica – como compartimentos ocultos para o transporte internacional da droga”, diz trecho de nota da PF.
Durante as investigações, os agentes federais descobriram cinco cargas de drogas remetidas pelo grupo para fora do Brasil. Entre os destinos estavam países como Portugal, Espanha e Inglaterra.
“Por meio de uma cooperação policial internacional com a Alemanha, foram apreendidas naquele país três cargas dessas [drogas] que estavam em trânsito para o destino final”, afirmou a PF.
Os alunos de Medicina envolvidos com a quadrilha, ainda conforme a PF, são brasileiros, estudam na Bolívia e tiveram a atuação comprovada no pagamento das remessas da droga ao exterior, “funcionando como uma ponte financeira e logística do esquema”.
Chamada de Operação Sinal Sujo, a ação cumpriu 10 mandados de busca e apreensão em cinco estados, nas seguintes cidades: Manaus (AM), Itamaraju (BA), Campo Grande, Corumbá, Volta Redonda (RJ), Rolim de Moura (RO) e Espigão d’Oeste (RO).
A ação policial realizada ontem contou com a participação de mais de 50 agentes federais.
FRONTEIRA
Neste ano, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), 5,1 toneladas de cocaína já foram interceptadas em Mato Grosso do Sul pelas forças policiais.
Desse montante, mais da metade foi encontrado em municípios da faixa de fronteira do Estado, responsáveis por 2,9 toneladas da droga apreendida até esta segunda-feira.
Já no ano passado, quando ao longo dos 12 meses foram apreendidos 17,6 toneladas de cocaína em MS, 51,8% desse valor – ou seja, 9,1 toneladas – estavam na faixa de fronteira sul-mato-grossense.
Isso acontece porque o Estado faz fronteira seca com a Bolívia, um dos principais produtores de cocaína do mundo, ao lado do Peru e da Colômbia.
Mas também tem uma grande fronteira com o Paraguai, produtor de maconha e casa de diversas organizações criminosas brasileiras e estrangeiras ligadas ao tráfico.
A localização estratégica para esse tipo de atividade faz com que a principal atuação da PF em Mato Grosso do Sul seja justamente contra esse tipo de organização criminosa.
OUTRA OPERAÇÃO
Outra prova de que a fronteira de MS é realmente a principal forma de se entrar com drogas no País é que o Estado também foi alvo ontem de uma segunda operação da PF sobre o tráfico de entorpecentes.
A ação foi deflagrada pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em Mato Grosso do Sul (Ficco-MS).
Batizada de Operação Kéfale, a ação teve como foco desarticular uma organização criminosa envolvida com tráfico interestadual de drogas, lavagem de dinheiro e homicídios que atuavam em MS e outros estados brasileiros.
Ao todo, foram expedidos 60 mandados de prisão preventiva e 49 mandados de busca e apreensão, além de medidas patrimoniais contra os investigados.
A ofensiva ocorre simultaneamente em Mato Grosso do Sul e em outros 10 estados, entre eles Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe, Piauí, São Paulo, Mato Grosso, Paraná, Pernambuco, Tocantins e Rondônia.
As investigações apontam que o grupo atuava de forma estruturada, utilizando rotas internacionais para o fornecimento de entorpecentes.
A distribuição era concentrada em Porto de Galinhas, no litoral sul pernambucano, com ramificações em Recife (PE) e em sua região metropolitana.
Segundo a PF, a quadrilha também se destacava pelo uso da violência e por manter uma hierarquia definida entre os membros. Mais de 400 agentes das forças de segurança participaram da operação, que foi coordenada pela Ficco-PE, responsável pela investigação.
As medidas judiciais foram autorizadas pela 1ª Vara Criminal de Ipojuca (PE) e têm como objetivo enfraquecer o grupo, interromper suas atividades criminosas e reunir mais provas para o processo.
SAIBA - Apreensão em viagem de ônibus
A Polícia Federal (PF) também informou, por meio de nota, que prendeu em flagrante duas mulheres por tráfico de drogas na segunda-feira, em Mato Grosso do Sul.
De acordo com a corporação, a ação ocorreu após denúncia anônima que informava que duas mulheres transportavam entorpecentes em um ônibus que partiu de Campo Grande com destino a Três Lagoas, município que faz divisa com o estado de São Paulo.
Na abordagem, foram localizados aproximadamente 5 kg de cocaína com ambas. Elas foram levadas à Delegacia da PF em Três Lagoas.
Dayane Albuquerque e Alicia Miyashiro - www.correiodoestado.com.br