Uma pesquisa desenvolvida na Fazenda Experimental da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) revelou resultados animadores para produtores de soja e milho: é possível reduzir em até 50% o uso de fertilizante químico, mantendo ou até aumentando a produtividade, ao consorciar adubações orgânicas e organominerais.
Além disso, a adoção dessa prática pode levar a ganhos de 20% no lucro do produtor.
O projeto, intitulado “Avaliação de adubos orgânicos e químicos no plantio da soja e do milho”, é coordenado pelo professor doutor em Produção Vegetal da UFGD, Luiz Carlos Ferreira de Souza, e busca comparar três tipos de manejo: um com adubação exclusivamente mineral (química), outro apenas com adubos orgânicos e o terceiro utilizando adubos organominerais, isto é, a mistura de fertilizantes orgânicos e minerais.
“Para que a cultura da soja atinja alta produtividade, suas necessidades nutricionais devem ser supridas, sendo imprescindível o correto manejo da fertilidade do solo. Porém, diante do crescente custo dos insumos, o fertilizante tem sido o item mais oneroso, elevando significativamente o custo de produção de grãos”, explica o coordenador do estudo.
A substituição de parte do fertilizante químico por adubo organomineral chamou a atenção pelos números expressivos.
Segundo o microbiologista e empresário Fabiano Arantes, que produz mais de 180 mil toneladas de adubo orgânico por ano, a prática não só diminui custos como também eleva a produtividade:
“Com relação à redução de custo, a gente já conseguiu verificar, em média, que a consorciação de adubação química reduzindo 50%, mais adubação organomineral, gera algo em torno de 15% a 20% de economia. E há incremento de produtividade entre 10% e 20%. Tudo isso reflete em benefício financeiro para o produtor.”
Na visão de Arantes, essa redução no uso de insumos químicos também traz vantagens ambientais:
“O benefício acessório, que não é tão acessório assim, é o benefício ambiental: possibilitar fazer um perfil de solo, recuperando-o e promovendo uma agricultura bioativa, regenerativa, sustentável. Também é importante para a destinação de resíduos. O maior patrimônio do produtor não é a soja, é o solo. Quando utiliza adubo orgânico ou organomineral, consorciado com adubação química, ele recupera as características físicas, químicas e biológicas do solo.”
Outro dado positivo é que as doses de adubos químico, orgânico e organomineral podem diminuir com o passar dos anos, conforme a estrutura do solo melhora.
Em cerca de cinco anos, essa economia pode alcançar índices ainda maiores:
“Essas quantidades vão se reduzindo ao longo do tempo. Podem chegar a patamares de economia de até 50%. Isso é uma construção de conceito que traz benefícios financeiros no médio prazo”, afirma Arantes.
Além do ganho financeiro, o pesquisador destaca a importância de se manter a saúde do solo em longo prazo:
“O principal fator é a qualidade do solo, a estruturação do solo, o perfil do solo, que é de onde o produtor mais vai ter benefício. Com a redução de custo e incremento de produtividade, o resultado acaba sendo um grande diferencial dentro do conceito de agricultura bioativa e sustentável.”
A pesquisa destaca ainda que os resíduos gerados pelo agronegócio — como dejetos de bovinos, aves, suínos, resíduos do setor sucroalcooleiro, e de diversas outras origens — podem ser transformados em Biofertilizante orgânico e organomineral, por meio de processo biotecnológico de compostagem acelerada.
Essa prática reduz a dependência de importações de fontes não renováveis de nutrientes, além de resolver problemas de descarte de resíduos, gerando economia e tornando a produção mais limpa, ecologicamente correta e sustentável.
Para produtores que buscam uma alternativa de baixo custo comparada aos fertilizantes minerais tradicionais, os adubos organominerais farelados podem significar uma excelente saída.
Por apresentarem mistura de componentes orgânicos e minerais, eles incrementam a matéria orgânica do solo, melhoram a capacidade de troca de cátions (CTC) e diminuem perdas por lixiviação e drenagem.
No experimento conduzido na Fazenda Experimental da UFGD, foram testadas diferentes combinações de fertilizantes (químicos, orgânicos e organominerais). Os resultados mostraram:
Para os pesquisadores, o grande segredo está em pensar no solo como um ativo-chave na propriedade rural.
A associação de adubos orgânicos e organominerais ao fertilizante químico reconstrói a fertilidade do terreno, equilibrando as necessidades das plantas com a preservação dos recursos naturais.
“O solo é o maior patrimônio do produtor. Na medida em que se investe na recuperação de suas características químicas, físicas e biológicas, os ganhos são crescentes e se prolongam por toda a cadeia produtiva”, finaliza Arantes.
De acordo com o professor Luiz Carlos, os resultados obtidos na Fazenda Experimental da UFGD reforçam a importância de práticas que unam rendimento econômico e responsabilidade ambiental.
Como o estudo conclui, a adubação orgânica e organomineral surge como alternativa interessante, sustentável e economicamente viável.
“Novas pesquisas devem aprofundar essas descobertas, a fim de validar e aprimorar ainda mais o uso de fertilizantes orgânicos e organominerais em larga escala no agronegócio brasileiro, onde restará provado todas as vantagens da implantação desse novo conceito de agricultura, bioativa, regenerativa e sustentável", destaca.
Valéria Araújo/Correio do Estado