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Chuvas irregulares ameaçam safra de soja no sul de Mato Grosso do Sul

Em Dourados, 30% das áreas plantadas apresentam perdas expressivas, segundo especialistas

Publicada em 07/01/2025 às 17:06h - Redação

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Chuvas irregulares ameaçam safra de soja no sul de Mato Grosso do Sul
Situação das lavouras de soja na região sul de Mato Grosso do Sul  (Foto: Divulgação/Otávio Mello)

A estiagem e a irregularidade das chuvas já afetam significativamente a safra de soja na região sul de Mato Grosso do Sul.

Em Dourados, 30% das áreas plantadas apresentam perdas expressivas, e a previsão meteorológica para os próximos 15 dias não aponta chuvas em volume suficiente para reverter o cenário.

Segundo o engenheiro-agrônomo e consultor Ângelo Ximenes, a estiagem, associada a chuvas mal distribuídas e de baixo volume, pode reduzir em até 30% a produtividade da soja na região

“Dos 250 mil hectares plantados, pelo menos 30% estão comprometidos pela falta de água. A soja precisa de aproximadamente 7 milímetros de água por dia para um desenvolvimento saudável na fase reprodutiva e de formação do grão, o que totaliza cerca de 49 mm [de água] por semana. A previsão atual indica chuvas entre 15 mm e 20 mm nas próximas duas semanas, bem abaixo do necessário”, explica.

Ximenes destaca ainda que dois fatores agravaram a situação. O primeiro foi o plantio antecipado, em setembro, com foco no milho safrinha.

Nesse período, o solo ainda apresentava baixa umidade. Além disso, a fuligem proveniente das queimadas no Pantanal prejudicou a radiação solar, essencial para o processo de fotossíntese e desenvolvimento das plantas.

“A soja depende de um fotoperíodo adequado, ou seja, da quantidade de luz solar recebida diariamente para realizar a fotossíntese e crescer. A fuligem impediu a penetração da luz nas folhas, comprometendo a nutrição e a formação das vagens”, ressalta o consultor.

Já os produtores que optaram por plantar em outubro, fora do período ideal para o milho safrinha, sofreram menos com a escassez de chuvas, pois encontraram o solo em condições mais adequadas.

DESENVOLVIMENTO

Outro especialista, o engenheiro-agrônomo e consultor Otávio Vieira de Mello, alerta para as perdas generalizadas na região sul do Estado. Ele menciona que Dourados, Ponta Porã e Itaporã apresentam situações preocupantes.

“Estamos no período mais crítico da soja, a formação do grão, que exige maior demanda hídrica. Infelizmente, não há previsão de chuvas suficientes para atender a essa necessidade”, afirma Mello.

Segundo ele, as últimas três safras já foram prejudicadas pela seca, reflexo do fenômeno climático La Niña. 

“Na região do Guassu, a expectativa média de colheita era de 56 sacas por hectare. No entanto, estamos observando rendimentos em torno de 25 sacas por hectare, o que levou muitos produtores a acionar o seguro agrícola”, aponta o consultor.

ESTADO

Dados da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Sistema Famasul), divulgados em 17 de dezembro, confirmam o impacto climático.

Na região sul, que inclui municípios como Itaporã, Douradina, Deodápolis, e Glória de Dourados, 20% das lavouras em Dourados apresentavam algum tipo de problema.

Em Fátima do Sul e Glória de Dourados, o índice de áreas afetadas subiu para 30%.

O levantamento também aponta a presença de plantas daninhas e pragas, como capim-pé-de-galinha (Eleusine indica), milho tiguera (Zea mays), percevejo-marrom (Euschistus heros) e lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), embora em incidência considerada baixa.

Apesar do cenário adverso em algumas áreas, a estimativa para a safra de soja 2024/2025 é de crescimento.

O relatório do Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (Siga MS) estima um aumento de 6,8% na área plantada, totalizando 4,501 milhões de hectares, e uma produtividade média de 51,7 sacas por hectare.

A produção esperada é de 13,977 milhões de toneladas, conforme já adiantado pelo Correio do Estado.

Ainda conforme o relatório, as previsões climáticas indicam chuvas entre 500 mm e 800 mm no período de dezembro a fevereiro, próximas à média histórica.

“Essa condição pode beneficiar as lavouras em fase de enchimento de grãos, entre dezembro e março. Ainda assim, o cumprimento do calendário de aplicação para controle de pragas e doenças será fundamental para garantir bons resultados”, detalha o relatório. 

O plantio foi concluído em todo o Estado em meados de dezembro de 2024. De acordo com o coordenador técnico da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), Gabriel Balta, a semeadura foi concluída com uma avaliação pior que na safra anterior porque, apesar de um maior porcentual das lavouras estar em boas condições, as em condições ruins também aumentaram. 

“Concluímos o plantio da soja com 90,4% das lavouras em boas condições, 7% em condições regulares e 2,6% em condições ruins. Comparando com o mesmo período da safra 2023/2024, tínhamos 89,3% das lavouras em boas condições, 10% em condições regulares e 0,7% em condições ruins”.

Dos 4,5 milhões de hectares plantados, 4 milhões de hectares se encontram em boas condições de desenvolvimento, outros 315,3 mil hectares em crescimento regular e 118,8 mil hectares em situação ruim. 

Entre as regiões, o oeste (98,2%) e o sudoeste (97,4%) de Mato Grosso do Sul têm o maior porcentual de lavouras com condições boas de desenvolvimento.

Já os menores porcentuais são aferidos nas regiões sul, com 80% das lavouras em boa situação, e sul-fronteira, com 77,2%.

A colheita no Estado está prevista para começar na segunda quinzena de janeiro, com pico entre os dias 14 de fevereiro e 21 de março, abrangendo 86% da produção. O período se estenderá até o dia 18 de abril.

Embora a expectativa para a safra estadual seja otimista, os desafios enfrentados na região sul, especialmente em Dourados e municípios vizinhos, mostram que a estiagem e outros fatores climáticos seguem sendo ameaças à produtividade. 

Os especialistas recomendam atenção redobrada ao manejo das lavouras, especialmente em períodos críticos, como o de enchimento de grãos.

Além disso, reforçam a importância de mecanismos de proteção, como o seguro agrícola, e controle de pragas para minimizar os prejuízos dos produtores afetados pela seca.

** Colaborou Súzan Benites

Valéria Araújo, de Dourados










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