Depois da disparada no volume dos embarques de soja no terminal de Porto Murtinho, que desde meados de fevereiro até o fim de agosto somam 1,38 milhão de toneladas, a empresa que instalou o terminal pretende dobrar sua capacidade de armazenagem às margens do Rio Paraguai para o próximo ano, passando de 30 mil para 60 mil toneladas a capacidade.
A previsão, conforme Genivaldo dos Santos, gerente de operações portuárias da FV Cereais, é de que sejam construídos três silos com capacidade para dez mil toneladas cada um, o que demandará investimento estimado em até R$ 40 milhões.
O investimento, de acordo com Genivaldo, será feito porque a empresa acredita que os embarques nos próximos anos seguirão ritmo parecido aos de 2023. Na comparação com os oito primeiros meses do ano passado, os embarques aumentaram 360%, passando de 300 mil toneladas para 1,38 milhão de toneladas. O volume deste ano supera a soma dos quatro anos anteriores, que foi de 863 mil toneladas.
Neste ano, o pico de embarques ocorreu em maio, com 292 mil toneladas, e nos dois meses segunites o volume foi parecido, com 252 e 273 mil toneladas, respectivamente. Em agosto, porém, houve queda, passado para 150 mil. Genivaldo atribui esta redução a oscilações normais do mercado da soja e a instabilidades na economia argentina.
Para setembro, porém, ele acredita que haverá recuperação e a previsão é de que sejam pelo menos 200 mil toneladas. Para a próxima semana, apesar do feriado de 7 de setembro, está prevista a saída de três comboios de barcaças, que juntos levarão 70 mil toneladas. Isso equivale a cerca de 1.750 carretas a menos nas estradas.
Estacionamento próximo a Porto Murtinho comporta em torno de 450 carretas
Mas, até a beira do rio, a soja chega em caminhões. De acordo com Genivaldo, são em torno de 290 veículos de carga que chegam diariamente a Porto Murtinho. E, como a cidade não tem estrutura para todo esse volume, as carretas ficam esperando em um estacionamento particular a seis quilômetros da área urbana, próximo ao acesso à ponte sobre o Rio Paraguai que está em construção.
Conforme Genivaldo, apesar desta explosão no movimento, os caminhoneiros ficam esperando apenas 12 horas, em média, para conseguir descarregar, já que toda entrada e saída deste estacionamento é feita por agendamento. Ou seja, antes mesmo de saírem dos armazens, os motoristas já sabem o período em que vão descarregar no porto.
E por causa do grande volume de embarques, o terminal passou a funcionar 24 horas por dia. Para que isso fosse possível, o número de trabalhadores passou de 45 para 65.
O aumento nos embarques, de acordo com Genivaldo, ocorreu principalmente por causa da quebra na safra de soja no Paraguai e na Argentina. E, conforme ele, como a Argentina é historicamente o maior exportador de farelo de soja do mundo, eles precisam importar matéria-prima para que suas indústrias não fiquem paradas.
Mesmo que no próximo ciclo as lavouras deles voltem a produzir normalmente, as exportações de Mato Grosso do Sul via Porto Murtinho devem continuar, pois os estoques deles estarão baixos e por isso vão precisar dos grãos importados, acredita Genivaldo.
E é com base neste raciocínio que o grupo que explora o terminal portuário pretende ampliar a capacidade de estocagem, que atualmente está restrita a um único armazém na margem do Rio Paraguai.
Outra explicação para esse aumento nos embarques está justamente no Rio Paraguai, que neste ano atingiu o maior nível dos últimos cinco anos. Nesta sexta-feira o nível estava em 4,53 metros, conforme medição feita diariamente pela Marinha.
No ano passado, na mesma data, o nível era de 2,71 metros. No dia primeiro de setembro de 2021, estava em apenas 1,45 metro, o que praticamente inviabilizava o transporte pela hidrovia.
O grande movimento surpreendeu até mesmo os operadores do terminal. Até meados de março haviam sido contratadas 650 mil toneladas, o que já era um montante histórico. E, a expectativa otimista da empresa era chegar a até um milhão de toneladas até o fim do ano.
Porém, em julho esta meta já foi superada e agora a perspectiva é de que chegue próximo a dois milhões de toneladas, o que representa quase 15% de toda a soja produzida em Mato Grosso do Sul na última safra, que ficou perto de 15 milhões de toneladas.
Neri Kaspary/CorreioDoEstado